O que nos falta?



"...a utilidade da xícara está em poder esvaziar-se." Bruce Lee

 

Em geral, as coisas são feitas para preencher vazios.

Os móveis são feitos para preencher os espaços dentro de um determinado lugar, tudo simetricamente encaixado, pensado, para preencher.

Preenchemos até dentro deles. Até que não caiba mais roupas, não paramos de preencher o guarda-roupas, ou tentar.

Ao entrar em uma casa vazia, nossa mente rapidamente nos leva a imaginar a mobília dentro dela, por vezes, completamos lugares vazios.

Preenchemos os copos, enchemos de água até transbordar e nem sempre é sede. Às vezes é a compulsão por preencher.

Já vi das formas mais diversas de preencher, mas acredito não ter visto tudo.

É pensando nisso que muitas coisas foram criadas. Muitas datas talvez, tenham sido criadas cirandando em torno dos vazios que foram notados; A olho nú. 

Quando se trata do palpável, o vazio nos deixa ligeiramente incomodados. Pensamos em como preencher, raciocinamos, fazemos contas, medimos, e só depois, preenchemos. Mas quando se trata do que não se pode ver e nem tocar, o impalpável universo do nosso interior, ficamos cegos. 

O vazio invade o nosso subconsciente, nos faz aprender a conviver com ele, mas nos faz constantemente tentar preenche-lo de forma massiva, irracional.

Só iremos parar, quando nos sentirmos completamente cheios, preenchidos.

Antes disso, buscaremos nas coisas, nas mais absurdas coisas.

Preencher nos traz uma satisfação leve e passageira, nos sentimos completos por um breve momento. Devemos nos apegar ao que é eterno e não ao passageiro. O que é passageiro nos sustenta por um determinado período, mas vai embora. O eterno nos mantém dia após dia, sem nos desamparar jamais.

Feridas e traumas são como buracos negros, sugam o que podem e nunca se fecham. Curamos as pequenas e cultivamos as grandes. Seja com o consumismo ou com relacionamentos errados e incoerentes, a nossa alma tem sede por preencher as feridas e traumas. Nos vemos dentro dos mais variados vícios, nos perdendo de quem somos e nossa atenção é dada à aquilo que nos traz a ilusão de completude.

Pensamos em encher, mas nunca em esvaziar. Talvez este, seja o segredo.

Com o passar dos anos, vamos agregando lacunas em nossa alma e jamais pensamos em esvaziar todo o resto, em deixar para trás o que aprendemos e seguir em um novo universo e conceito. 

Só há um único jeito de extinguir lacunas, mesmo as maiores e aparentemente impossíveis de se aniquilar. Só o amor é capaz de fazer inexistir as dores e pesadelos da alma. As demais ações irão apenas maquiar, mascarar, mas no fundo, tudo continuará lá e quando menos esperar, tudo reaparecerá.

É necessário abrir mão da dor, abrir mão de si mesmo, abrir mão do que pensou ter construído dentro de você e se deixar encher de amor. Não como o mundo nos apresenta, mas como Ele está disposto a nos apresentar. 

O primeiro passo para preencher, é esvaziar-se.

 

0 idéias novas!:

Volver al inicio Volver arriba Incansável Sentinela. Theme ligneous by pure-essence.net. Bloggerized by Chica Blogger.